“007, Ordem para Jogar” foi o nome de um espectáculo do Casino Estoril que era protagonizado por Vitor Espadinha. Na estreia a convidada musical era Theresa Maiuko. Mais tarde foi substituída por Dulce Pontes e Rita Guerra, ambas em início de carreira.
[imagens do espectáculo de estreia incluíndo o helicópetro de 007]
Tendo como inspiração a carismática figura criada por Ian Fleming, James Bond, o Casino Estoril apresenta agora «007 — Ordem para Jogar», uma superprodução musical orçada em 60 mil contos. Vítor Espadinha é o Bond e as bailarinas do High Society Ballet são as Bond-girls. Tereza Maiuko é a voz, e as grandes vedetas deste luxuoso e trepidante «show» são os efeitos cénicos, alguns deles usados pela primeira vez em Portugal.
Está no Estoril, o Casino deseja-lhe boa noite. É a voz de Júlio César ecoando na penumbra do Salão Preto e Prata, antecedendo os vibrantes acordes musicais que dão início ao novo show do Casino.
A partir daí, projecta-se um verdadeiro festival de luzes (70 mil watts) e lasers a «escreverem a verde, lentamente, como convém ao suspense: 007 O-R-D-E-M P-A-R-A J-O-G-A-R. Estão lançados os dados, aceite a proposta e adira.
Olhe para cima e vindo lá do alto terá a surpresa de ver no «ar» um helicóptero britânico (mas é óbvio!) trazendo dentro a personagem criada por Ian Fleming, sempre ao serviço de Sua Majestade. E ele, James. Bond, o homem da noite, profere Vítor Espadinha, em entoação shakespeariana, que acaba por resultar e quase leva ao engano.
Curioso que, sendo Espadinha a antítese do célebre espião, passa muito bem pelo show, em poses formais, criando a ilusão do perfil do sedutor Bond que tanto luta por uma (ou mais) belas mulheres como nunca vira costas aos mais inesperados e incríveis desafios.
Eles começam por suceder, no palco (15 metros de largo por 20 de fundo), quando o cerebral agente, sempre perseguido pelo «inimigos (Wiesiek, acrobata polaco), se vê forçado a lutar contra uma gigantesca aranha que, já se vê, é vencida com rápida facilidade. O público que enche as mesas do salão (mil pessoas), já tem a certeza de que pela frente vai desfilar uma superprodução musical (60 mil contos), baseada numa tecnologia altamente sofisticada, de efeitos cénicos especiais, alguns deles usados pela primeira vez em Portugal, suportados por 440 projectores e uma bateria de projectores Júpiter, lasers, fumos, explosões, coreografia estudada ao pormenor, além da riqueza invulgar de um guarda-roupa, onde não faltam as pérolas, as plumas, as lantejoulas e as bolas de cristal, passarias pelos 22 elementos do Hígh Society Ballet (australianas, canadianas, inglesas, francesas e uma portuguesa), e cuja primeira figura é Joana, uma loura inglesa, escultural no seu metro e oitenta.
Para que seja possível apresentar 007 — Ordem para Jogar, além dos 50 artistas que passam pelo palco, há que acrescentar mais 41 profissionais de cena que, juntos, respondem por este music-hall de nível europeu.
Depois de Cabaret, Sindbad, o Marinheiro, Showperman e Yellow Showmarine, a administração do Casino da Costa do Sol continua apostada em colocar o Estoril na senda dos grandes casinos mundiais, e tem apresentado, a par das remodelações das instalações, espectáculos de qualidade, estando anunciados já para Julho e Agosto, Benson e o Ballet da Ópera de Pequim, entre outros.
O esforço colectivo da equipa volta a renovar-se, apostando em força na figura de um homem nascido nas telas e «desviado», com lisura, para o trepidante ritmo de um music-hall português. Júlio César é o autor do guião e director do espectáculo, Francisco Duarte o director de produção, Pedro Osório o director musical, Octávio Clérigo o director cenográfico, e José Montez o director coreográfico.
O resultado é sugestivo e é aliciante. Agrada sem dificuldade, porque não promete mais do que se pode dar num espectáculo de casino. Cumpre a função para que é idealizado: distrai e entretém.
Como ponto alto, parece justo referir a apoteose dos efeitos visuais (afinal, eles também foram usados generosamente nos ecrãs), a música, já conhecida de várias bandas sonoras, e a coreografia, onde os Gipsy Rhapsod Quartet estão bem integrados no Society Ballet.
As passagens de Vítor Espadinha (o entertainer bem-amado do Casino), são brevese servem de ligação dos vários momentos do espectáculo e, embora tivesse tido na última produção, Yellow Showmarine, um papel de maior impacte, não cumpre mal o papel que agora lhe foi distribuído (o jogo fisionómico de Espadinha é muito bom).
E como a sedução se alia sempre ao imprevisível, na actuação do agente de Sua Majestade, também Espadinha, no Estoril, é imprevisível quando se encontra com «Gorbatchev», à luz da Perestroika. Desloca-se depois à China, entra no palco com um carro de estilo bondesco (um «Ashton Martin»), sai de fumos, oferece flores, e diz com voz cheia: Eu Sou James Bond. Claro que não se acredita, mas não se foge ao desafio do «faz-de-conta».
É também o «Bond do Estoril» que encontra a mulher de vermelho, de voz espectacular, que lhe canta Diamonds Are Forever, Goldfinger, From Russia With Love, num verdadeiro hino Bond, proporcionado por Thereza Maiuko, a cantar cada vez melhor mas a evidenciar, na estreia, uma enorme tensão em palco, principalmente quando o louro bailarino de pérolas aos ombros lhe tentava sorrir. Sem êxito. Thereza nunca esboçou o mais ténue sorriso, e nunca deixou transparecer que dava pela sua presença, apesar de ele tentar conduzi-la em cena. Porém, a ela se devem os melhores momentos da noite.
O espectáculo vai sucedendo com ritmo, e nesse renovar de situações o espectador é levado ao encontro do fantasista francês Al Carthy, um número interessantíssimo em que um cientista se vê confrontado com a decisão do robot que criara.
A imagem final exige atenção total e, por muito que tenha a certeza de que espectáculo é espectáculo, não vai conseguir deixar de ficar perplexo.
Conhecerá também Johnny Martin e as suas duas cadelas: Lady (Setter) e Vladys (Cocker). Uma delícia. Pena que o diálogo mantido com as suas partenaires seja em inglês, mas enfim, 60 por cento da frequência habitual do Casino é estrangeira e o português tem uma natural apetência para os idiomas.
Repare como Lady é a mais irreverente, indisciplinada e sonolenta Setter que alguma vez conheceu, e abra bem os olhos para ver Martin «equilibrar-se», sem mãos e sem rede, na pequena cabeça da Vladys. Imperdível.
Fátima Zohra é a portuguesa que no espectáculo dá o momento do contorcionismo. Sem apresentar nada de muito novo, o que apresenta é bom e o número final arrebata calorosas palmas.
Cenas de filmes conhecidos de James Bond vão desfilando ao longo de uma hora numa verdadeira apoteose de som (12 mil watts), e de luz (seis quilómetros de fio eléctrico, como do Campo Pequeno à Praça do Comércio, e 13 mil lárripadas de efeitos de cor).
Por entre murros, tiros, música, beijos e flores, desfila o show, com pretensões a agradar e a manter-se longo tempo em cartaz. Não parece ser uma aposta difícil de ganhar, já que é uma proposta luxuosa, trepidante e sugestiva.
artigo da revista TV GUIA
007 0rdem Para Jogar - Novo Espectáculo no Casino Estoril
Texto de Maria Elvira Bento Fotos de Jorge Jacinto