segunda-feira, 29 de março de 2010

Os Émulos 007



Por meados do Século XX, o fenómeno heróico e comercial logrado por James Bond 007, além de revitalizar excepcionalmente o género de espionagem no cinema e na literatura, gerou o aparecimento, efémero ou sequenciado, de diversos agentes secretos referenciáveis por uma sigla numericamente similar. As características dos produtos e dos protagonistas eram parecidas, e as proezas decorriam sobretudo na Europa - aliás indiciando uma origem de fabrico, embora por vezes se conotassem operacionais americanos que intervinham no estrangeiro. Um dos mais populares e trepidantes foi OSS 117 (Hubert Bonisseur de la Bath), logo em fitas com Kerwin Mathews dirigido por André Hunebelle. Cabe ainda destacar OSS 77 (Robert Kent), um sucedâneo italiano, de aliciantes eróticos e exóticos. Ou 077 (George Farrell), que chegou a cumprir uma Missão em Lisboa (Espionage in Lisbon - 1965 - Fréderic Aycardy) - entre vários que em Portugal enfrentaram ameaças científicas, tráficos de tecnologia e outras crises entre as superpotências. Sem esquecer que até Bond andou por cá - na pele de George Lazenby, como 007 Ao Serviço de Sua Majestade (On Her Mejesty’s Secret Service - 1969 - Peter Hunt).

O nosso cinema chegou a investir na fórmula, com destaque para Operação Dinamite (1967 - Pedro Martins) com Nicolau Breyner, e 7 Balas Para Selma (1967 - António de Macedo) com Florbela Queiroz & Sinde Filipe.

Assinala-se também um outro tipo de personagens que fizeram culto, muitas vezes pela própria carisma dos intérpretes - como Michael Caine no míope e introvertido Harry Palmer (sobre romances de Len Deighton); ou Eddie Constantine no duro e insolente Lemmy Caution (segundo Peter Cheney), que Jean-Luc Godard celebrou em Alphaville (1965).

Aliás, também os americanos se deixaram envolver - entre a rivalidade heróica e a competição cinéfila. É o caso de Matt Helm - a partir de 1966, encarnado com mais devoção que eficácia por Dean Martin; ou de Derek Flint - a que James Coburn atribuiu uma personificação emblemática, mesmo nas situações mais embaraçosas. Outra experiência exemplar, já para a televisão, foi a série The Man From Uncle - cujos notórios Napoleon Solo (Robert Vaughn) e Ilya Kuriakin (David McCallum) chegaram a exibir-se nos cinemas. Voltando a Inglaterra, Richard Johnson foi um refinado Bulldog Drummond a partir de 1967, tão elitista como cosmopolita. Uma visão perturbante e realista surgira, entretanto, explorada por Martin Ritt em O Espião Que Saiu do Frio (1965), com Richard Burton, sobre a obra de John Le Carré.

Foi ainda a explosão espectacular de 007 que fez saltar Monica Vitti como Modesty Blaise (1966 - Joseph Losey), a partir da banda desenhada; ou que detonou as sagas de Danger Man, Mission: Impossible, I Spy e o humor de Mel Brooks em Get Smart, pelo pequeno ecrã. Aliás, numa combinação irresistível entre dois operacionais britânicos, James Bond e Harry Palmer, Austin Powers, o Agente Misterioso (1998 - Jay Roach) celebra uma paródia irresistível aos agentes secretos, ao mundo da espionagem - estilizada entre a guerra fria, o amor livre e uma sofisticada tecnologia - enfim, aos excitantes e nevrálgicos anos ’60.

José Matos Cruz, IMAGINÁRiO167 (+)

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