sábado, 11 de fevereiro de 2012

Uma Lisboa saída de um filme de James Bond


Há quem diga que a prostituição é a mais antiga profissão do mundo, mas um passeio da Lisbon Walker prova que os espiões são sérios candidatos a esse título. Dos Descobrimentos à Segunda Guerra Mundial, venha conhecê-los

Qualquer semelhança entre o James Bond de Ian Fleming e o espião Triciclo não é pura coincidência. Antes de morrer, Ian Fleming revelou que o agente duplo que viveu em Lisboa durante o período da Segunda Guerra Mundial terá servido de inspiração à sua personagem. E para quem achava que o Casino Royale era o do Mónaco, há novidades - o escritor referia-se ao Casino Estoril.

Não muito longe da literatura e do cinema, a realidade vivida em Lisboa na época do conflito serviu de base a um passeio organizado pela Lisbon Walker, uma empresa que organiza passeios temáticos. "Lisboa foi um ninho de espiões", concluíram José Varandas e outros membros da Lisbon Walker depois de várias leituras sobre a presença de refugiados na cidade. Enquanto país neutro durante a Segunda Guerra Mundial, Portugal foi um local privilegiado para as partes em conflito se encontrarem para negociações e, à boleia, vieram também os espiões, alguns dos quais acabariam por ter um papel importante no conflito.

Durante quase três horas, os participantes deste passeio a pé ficam a conhecer um passado de oito séculos de espionagem em Lisboa. O passeio começa onde todos os outros percursos da Lisbon Walker têm início: na Praça do Comércio. Aqui, a conversa recua aos séculos XV e XVI, à época dos Descobrimentos. Sim, já aí existiam espiões. E até o próprio Cristóvão Colombo - já diria José Rodrigues dos Santos - pode ter sido um deles. Daqui até ao século XX, a viagem faz-se por baixo de terra, de metro até à Avenida da Liberdade. Com a descida, dois nomes vão-se desenhando: Garbo e Triciclo, nomes de código de dois agentes duplos que trabalhavam para os Aliados mas eram fiéis da causa nazi. A vida de qualquer um dos dois encontra-se amplamente documentada e, por isso, há pano para mangas neste passeio. Garbo, um espanhol que residia em Lisboa, tornou-se numa lenda da espionagem.

A partir deste ponto, conhece-se uma série de locais de eleição destes espiões: os hotéis onde ficaram alojados ou onde se encontravam. O Hotel Avenida Palace esteve muito ligado a uma conspiração alemã, no Hotel Suíço-Atlântico esteve hospedado um destes espiões e o Hotel Vitória, actual sede do PCP, era o favorito dos Aliados. Toda esta descrição é acompanhada de um enquadramento no Estado Novo e de como se vivia em Lisboa nessa época, para recriar o seu ambiente na cabeça dos participantes. Chegando ao Rossio, o tema da conversa foca-se nos refugiados, que Portugal acolheu em quantidade e que trouxeram muitas informações úteis.

"Este é um passeio que levanta muita curiosidade, tanto para quem toma contacto com o tema pela primeira vez, como para quem já leu inúmeros livros sobre ele", garante José Varandas, da Lisbon Walker. E há motivos para agradar a todos. Tanto, que até antigos espiões estrangeiros já terão (alegadamente, claro) vindo fazê-lo.

"Lisboa, Cidade de Espiões" acontece no segundo domingo de cada mês, às 14h30. Custa €10 por pessoa. Não implica inscrição prévia, basta aparecer no local combinado (Pç. do Comércio com Terreiro do Paço). Para mais informações contacte a Lisbon Walker. www.lisbonwalker.com

Jornal I / 12 de Fevereiro de 2010

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