domingo, 20 de junho de 2010

Eis 007, o Ministro anticrise

Em tempo de crise, chega a Alvalade Francisco José Rodrigues da Costa ou, simplesmente... Costinha, um Ministro - alcunha ganha por ir de fatinho para os treinos - que é fã do agente secreto James Bond e que corporizará, no Sporting, a missão de director do futebol profissional, segundo foi ontem comunicado pela SAD à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. E que missão terá ele de enfrentar! O ídolo das telas de cinema será mesmo fonte de inspiração na nova etapa profissional de quem só esta semana pendurou as botas, rescindindo contrato com a Atalanta, pondo termo a quase três anos de agonia em Itália. E não faltarão fatos, gravatas e óculos de classe ao sucessor de Ricardo Sá Pinto, ele que, sendo um leão empedernido, em Portugal, ao mais alto nível, só representou o FC Porto, cujo modelo de organização (vencedora) é admirado pelo presidente leonino, José Eduardo Bettencourt. Em tese, é uma comunhão perfeita. Porque este "sportinguista desde pequenino" que agora entra como profissional no reino do leão é "um ganhador" e é "extremamente ambicioso", como se definiu a O JOGO (07.10.2002).

Desde tenra idade que Costinha gosta de impressionar pela imagem, sempre em grande estilo, sem olhar a despesas. É uma forma de se vingar dos anos em que passou dificuldades. Sim, faltava dinheiro nas humildes raízes lisboetas que possui. Filho de pais trabalhadores que no dia 1 de Dezembro de 1974 acolheram o rebento que virou Ministro na Côte d'Azur, os primeiros trocos ganhou-os à custa de uma personalidade vincada pelo trabalho e ambição. Foi por ter como lema de vida "estagnar é morrer" que, em 1997, pela mão do empresário Jorge Mendes - o mesmo que agora contribuiu para esta nova vida -, se mudou com estrondo para o principado francês, onde Rainier III ainda reinava. "Um ambiente de luxo, com charme e relógios de ouro", como em tempos fez questão de lembrar. A Madeira não era rival, e o Nacional, então na II Divisão B, ficava (bem) para trás.

No Mónaco, personificando uma ascensão meteórica, ganhou de Henry, um dos que "só conhecia da Playstation e do 'Domingo Desportivo'", a alcunha de Ministro por ir todos os dias de fato para o treino.

O bom gosto no vestir e no calçar deram-lhe carisma, legado de Bond, James Bond. E nem as bombas faltam para condizer. A gravata ou o relógio encontraram nos carros uma paixão de vida, a extensão de um cenário de elegância e extravagância ponderada, assente na convicção e no realismo de quem passou por privações, mas que, com sofrimento, aprendeu a saber estar na vida, como Bond, James Bond. Do Porsche ao Lamborghini Gallardo, passando pelo BMW X5 ou um Golf Cabrio, as suas mãos já provaram de tudo. E com cores elegantes a condizer - nem o amarelo do Lamborghini Gallardo, "um carro com uma pinta que se farta" que contrastava com o preto do amigo Maniche.

Não foram, todavia, os gostos pessoais que cativaram o respeito e a admiração de muitos dos que com ele têm privado. Agora, numa nova etapa da vida, optando apenas e só pelos sapatos e gravatas (as botas de futebol ficaram em Bérgamo), o clube do coração chamou-o. No profissionalismo e exemplo dado terá bitola de marca no balneário, santuário que liderou por onde passou, capitaneando emblemas históricos e a selecção do país que o viu nascer. Na frontalidade sensata, sempre com poucas papas na língua, tem sustentado o seu percurso de vida, reconhecido pelo presidente leonino, José Eduardo Bettencourt. Personalidade e organização também lhe são apontadas. E a crise está aí, para resolver à... Bond, James

RUI MIGUEL GOMES/ OJOGO

http://www.ojogo.pt/26-57/artigo850470.asp

O estilo de Costinha. Este texto baseia-se em fatos verídicos

O ministro que tem a pasta do futebol do Sporting é um agente secreto no mercado que se veste como James Bond

(...)

[No Verão de 1997] a vida de Costinha muda significativamente. Cresce como atleta, ao ponto de começar a ir à selecção nacional com a frequência de outros nomes mais mediáticos como Figo e Rui Costa, e vira modelo para os restantes companheiros. E modelo no sentido de elegância e admiração no balneário mais chique da Europa. Aparece então a alcunha de Ministro, que ainda lhe assenta que nem uma luva.

"O Henry [Thierry, avançado do Mónaco e da França] era danado para a brincadeira. Como eu ia de fato para o treino todos os dias, ele começou a chamar--me de ministro. A alcunha espalhou-se por todos os companheiros e pegou. Alcunhas há muitas mas essa ficou. Até hoje."

É verdade. Ainda hoje, Costinha, grande fã de James Bond, carrega esse nome, agora por força do contacto diário com a imprensa portuguesa como director de futebol do Sporting.

O i apanhou-o em seis dias diferentes e fotografou-o com seis fatos. Seis dias e seis fatos, soa-lhe a pleonasmo? Mas não é. Há um mês, Costinha falou com o jornal "Expresso" e vestiu três fatos durante a entrevista (tem mais de 50 completos em casa, além de carros e relógios "cheios de pinta"). O gosto pela elegância, ao estilo de um agente secreto, dá-lhe para isto. E para governar o Sporting. Que teima em continuar sem vestir nada para cobrir os maus resultados.

i, 21/08/2010

Era conhecido no Mónaco por senhor ministro, pela forma exemplar como se entregava ao trabalho, mas também por se apresentar sempre impecavelmente vestido. Fã incondicional dos filmes de 007, Costinha não precisa de recorrer às multifacetadas artimanhas de James Bond para controlar o seu território, que é o meio campo. Basta a clarividência, a impulsão que o superioriza a qualquer um no jogo aéreo, a inteligência, os passes de 50 metros e, até, a simplicidade de processos. A que se acrescenta carácter, personalidade, ambição, profissionalismo, inteligência e fé. No relvado como fora dele.

Perfil - site Gestifute

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A Missão de James Bond

Existe um Livro tão inacabado e inédito do Ian Fleming que só eu o li. A acção decorre nos anos 70. M. manda chamar James Bond, o indispensável agente de Sua Majestade, que partilha só com os magarefes o alvará para eliminar quem quer que seja sem ter de prestar contas por isso. Goza do privilégio a que tão prosaicamente chamam «licença para matar».

A fiel e paciente secretária põe-se em campo para o descobrir. Ela sabe que ele estará algures num clima tropical, ou todo nu, ou de «smoking». Ou na cama, a conviver e a transpirar, ou junto a uma mesa de roleta, com um «dry martini na mão.

Ao cabo de algum tempo, localiza-o e transmite-lhe a convocação de M. Ele, que está nas Caraíbas, promete que dentro de uma hora se apresenta no quartel-general. Ninguém sabe como James Bond consegue isto, mas o facto é que cumpriu: uma hora depois estava a entrar, a dirigir um dos habituais piropos sem esperança a Miss Monneypenny e a entrar no gabinete de M. Este olhou-o com austeridade e disse-lhe: «Sente-se, James. Olhe aqui para o mapa. Isto é a Madeira, um pequeno arquipélago português, onde muitos britânicos passam férias e do qual não vem mal nenhum ao mundo. Aqui é Portugal, onde ocorreu uma revolução democrática e que, estando lentamente em vias de normalização, atravessa agora uma fase confusa e reversível quanto à sua evolução. Os americanos preparam-se para tomar medidas drásticas já. Quanto a nós, é prematuro. A Revolução dos Cravos deu-lhes prestígio e atenção e há na opinião pública ainda uma certa nostalgia romântica em torno do caso português. Temos de nos antecipar e a sua missão, James, é levar o caos ao rubro, mudando assim a forma como o mundo os olha e fornecendo-nos uma justificação forte e plausível para liderarmos um projecto de intervenção. Terá de avistar-se com Q., que, além dos adereços do costume, tem mais para lhe dar e explicar. Ele está à sua espera. Boa sorte, James.»

Bond cumprimentou, saiu e dirigiu-se ao bazar-laboratório de Q. Recebido com o abraço do costume, Q., de bata branca imaculada, começou por lhe entregar alguns imaginativos e preciosos «gadgets». Além do Aston Martin Volante, ao qual acrescentara dois mísseis anti-aéreos, o bólide vinha agora também equipado com um pequeno compartimento para bombons Ferrero Rocher. Entregou-lhe depois duas «Berettas» aparentemente iguais e recomendou: «Cuidado com isto, James. Elas parecem iguais, mas não são. Esta é a sua para uso normal. Dispara pela frente. Aquela dispara pela culatra. É muito útil em situações em que tu adivinhas que vais ter de entregar a arma. Entregas esta e já sabes que quem disparar contra ti queima os seus próprios miolos.» Fez uma pausa e disse: «Agora - e antes de te mostrar a mais letal das minhas armas - vamos ao fundo da questão. M. ter-te-á dito o essencial. Mas nada te explicou sobre a alusão à Madeira. Ora, ela desempenha aqui um papel essencial. Está fora do continente, tem uma população langorosa e paciente e reúne todas as condições para servir de quartel-general para a tua missão de tornar o país patentemente inviável. A questão é a de infiltrar num dos partidos com hipóteses de ganhar as eleições no arquipélago um caudilho de raciocínio muito atípico, um demiurgo de ambições equivocadas, um Calígula imprevisível que passe a vida a chatear o seu partido e Portugal em geral. Sem partidos normalizados - ou sem um, desde que seja suficientemente influente - a confusão agudiza-se e, antes de Angola ser designada pelas Nações Unidas para pôr termo ao pandemónio, teremos nós a nossa oportunidade. Para isso concebi um 'robô' perfeito, que te vou apresentar. Vem ao meu escritório.»

Bond deu de caras, por entre nuvens de fumo de charuto, com duas solas de sapato cruzadas sobre a secretária. Só as mãos se lhe viam, brandindo, uma, o Tio Patinhas, e a outra uma biografia de César. A pedido de Q., civilizou a posição e mirou 007 dos pés à cabeça. «Então este é que é o arteista que me vai pôr na chefeia da Madeira?», perguntou. «É o nosso melhor homem,» rematou Q. «Olhe que eu já escolhei o parteido. É o PPD. Esteive vendo as provas de entrada no PS e acho que chumbava logo na escreita.» «O PPD serve. James, deixo-te com ele. É bom que falem e se conheçam melhor.» «Ao serviço de Sua Majestade,» respondeu James Bond, resignado.

«Bom, já que vamos trabalhar uns anos juntos, o meu nome é Bond, James Bond». «Eu ainda não cheguei a essa parte do livro de instruções, mas acho que o meu é Jardeim, Alberto João Jardeim.»

Nuno Brederode dos Santos, Expresso, 11/12/1999